O Cordeiro Imolado...
Irmã Lindalva Justo de Oliveira
A Província do Recife viveu intensamente a Paixão do Senhor, na pessoa de Irmã Lindalva Justo de Oliveira, de trinta e nove anos e três de vocação.
Natural de Açu, Estado do Rio Grande do Norte, veio de uma família simples, mas ao mesmo tempo, rica de sentimentos cristãos e de uma fé profunda. Retardou um pouco a sua entrada na Comunidade para dar assistência a seu pai. Ao terminar seu período de Seminário, foi enviada ao Abrigo Dom Pedro II, em Salvador, Estado da Bahia, onde servia com dedicação e desvelo os seus queridos idosos...
Tendo participado de todos os exercícios da semana santa, em sua Paroquia, na Sexta-Feira Santa, dia 9 de Abril, apesar de não estar bem de saúde, esteve presente na ultima Via-Sacra, às 4:30h da manhã. De volta para o Abrigo, foi servir o café a seus queridos velhinhos, longe de pensar que a Via-Sacra, que acabara de fazer, culminaria com o sacrifício de sua própria vida.
Jesus subiu o calvário, após sua Via-Dolorosa. Irmã Lindalva também, após o exercício da caminhada litúrgica, subiu a longa escada de sua enfermaria (Calvário), colocou o avental de serviço e começou a preparar os pães para servir o café dos idosos, quando, de repente, foi brutalmente surpreendida pelo criminoso que, segundo ele, há três dias havia premeditado o crime.
Conforme informações de um idoso dessa enfermaria, o criminoso – Augusto Peixoto – estava sentado num banco do jardim interno e, logo à passagem de Irmã Lindalva, ele subiu apressadamente por outra escada. Chegando ali, tocou-lhe no ombro, por trás, e ela, voltando-se para ver quem a tocava, recebeu a facada mortal da região supra clavicular esquerda, atingindo a veia jugular e penetrando profundamente no pulmão. Irmã Lindalva deu um grito e estendeu o braço direito para trás, provavelmente para se defender, quando o assassino lhe deu novos e profundos golpes no braço, antebraço e dedos.
Um idoso que se aproximou do local na hora do crime, viu Irmã Lindalva estendida no chão e o criminoso a golpear-lhe profundamente em todo o seu corpo... O velhinho suplicou-lhe: “Não faça isso com a Irmã!” Ele respondeu: “Afasta-se, senão faço o mesmo com você...”
Irmã Maria Dutra, que servia o café dos idosos em outra enfermaria, ouvindo um grito abafado, correu para ver o que estava acontecendo e se deparou com a terrível tragédia. Teve ainda a coragem de segurá-lo pelo braço, porém nada pôde fazer, pois foi ameaçada de sofrer os mesmos golpes. Nesse momento, Irmã Lindalva acabava de morrer. O criminoso ameaçava também os idosos da enfermaria, dizendo que faria o mesmo com quem se aproximasse e repetia várias vezes: “Estou satisfeito com o que fiz!”.
A segunda irmã que chegou ao local, Irmã Geraldina, não esperando encontrar aquela cena, gritou estarrecida: “Meu Deus, quem fez isso?” O criminoso que estava no interior da sala, levantou a faca e disse: “fui eu, e faço o mesmo com quem se aproximar; pode chamar a polícia; não estou arrependido”. Irmã Geraldina, estarrecida, imóvel, ficou aguardando a sua vez, pois ele caminhava em sua direção limpando a faca suja de sangue em sua própria roupa. Graças a Deus chegava um médico do Abrigo e deu a mão à Irmã, ajudando-a caminhar e descer a escada. Esse mesmo médico telefonou para a polícia que chegou minutos depois. O Criminoso foi preso e o corpo da Irmã foi levado para o Instituto Médico Legal, onde foi feita a necropsia, descobrindo-se que foram trinta e nove facadas profundas e cinco menores, num total de quarenta e quatro facadas. O Cardeal Dom Lucas Moreira Neves, Arcebispo de São Salvador da Bahia, ao fazer a encomendação do corpo de Irmã Lindalva, destacou a importância do serviço por ela prestado aos idosos, associando o seu sacrifício ao de Cristo e dizendo que ela também fizera a sua Via-Sacra, sendo que Cristo recebera cinco chagas e Irmã Lindalva quarenta e quatro por todo o corpo. Lembrou também que Irmã Lindalva não era a primeira religiosa a ser sacrificada no exercício de sua missão, e que Santa Agostinha fora assassinada, quando fazia o curativo de um doente, o qual lhe tirou a vida, usando os próprios instrumentos do curativo.
Concluindo o Cardeal disse: “ Não tenho dúvidas de que Irmã Lindalva é considerada pela Igreja como uma mártir. O Instrumento usado no seu martírio deve ser guardado como relíquia, pois o sangue da vitima será semente de novas vocações, não só para as Filhas da Caridade, como para todas as Congregações da Igreja de Deus!
Só penetrando no mistério da Paixão de Jesus e na sua Ressurreição, seremos capazes de compreender o mistério da vida e da nossa própria morte, sobretudo da morte quando ela vem de uma maneira violenta, inesperada e brutal: Somente a fé abre as nossas mentes e os nossos corações para nos fazer entender e aceitar este acontecimento à luz daquilo que acontece na vida de Jesus.
Não nos compete julgar os desígnios de Deus, os seus segredos, mas uma coisa é certa, Deus tem as suas razões mais profundas a nosso respeito. Os seus planos não são os nossos planos, como diz o profeta, e os seus pensamentos não são os nossos pensamentos. Basta que acolhamos na fé os desígnios de Deus e saibamos entender o segredo da vida que brota da morte, por mais brutal que ela seja. Irmã Lindalva é uma mártir que reza conosco e por nós!”
Irmã Edith Gomes da Silva, Visitadora na época em que aconteceu o martírio de Irmã Lindalva.
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