" A mulher que teme ao Senhor merece louvor!
Cantem o sucesso do trabalho dela
e que suas obras a louvem na praça da cidade"
(Pv 31, 30b-31)
A Bahia é uma terra privilegiada não apenas pelas suas belezas naturais e arquitetônicas, mas por ter abrigado grandes personalidades desde à sua fundação até a atualidade. Trata-se das pessoas, homens e mulheres, de diversas áreas das ciências, politica,artes, literatura e religião.
A nomenclatura da principal Baia do Estado, descoberta em 1 de novembro, pode ser empregada ao território de terra firme designando também a "Bahia" como "de Todos-os-Santos". Isto é, se levarmos em conta as personalidades "santas" que por aqui estiveram e deixaram seu testemunho de vida. Entre os mais conhecidos, já canonizados, estão São José de Anchieta, São João de Brito, Santo Antonio Galvão e São João Paulo II só para citar alguns. Existem ainda algumas pessoas já beatificadas pela Santa Igreja que também testemunharam as virtudes cristãs por aqui. É o caso das Beatas Teresa de Calcutá, Lindalva justo e Dulce dos Pobres. Acrescentamos à esta lista figuras femininas de profunda vivência cristã ainda não beatificadas pela Igreja: como a religiosa Madre Vitoria da Encarnação, algumas de suas companheiras residentes no Convento do Desterro em sua época e a Madre Joana Angélica que foi morta a baioneta no Convento da Lapa, por defender a clausura e honra de suas monjas no contexto das batalhas pela independência da Bahia.
Beatas Teresa de Calcutá e Dulce dos Pobres na região denominada "Alagados" em Salvador-BA |
Sabendo desta presença feminina tão marcante no âmbito religioso cristão, ousamos por um instante mudar o gênero do substantivo pós-posto que inicialmente adotamos para designar a "Bahia". Destarte queremos, honrosamente reverenciar as mulheres "santas" de nossa terra e as que almejam este ideal em nossas atuais comunidades cristãs. Consentindo na mudança do gênero, a "Bahia de Todas-as-Santas" tem sua representação mais famosa na pessoa da Beata Dulce dos Pobres que mereceu a alcunha de "Anjo Bom" da Bahia pelas suas ações caritativas junto aos mais necessitados. Não menos importante e igualmente fecunda na vida espiritual desta cidade foi a presença da Bem-aventurada Teresa de Calcutá quando por ocasião da fundação de uma de suas casas, aqui esteve conhecendo a região outrora chamada de "Alagados".
Na mesma região onde Irmã Dulce e Madre Teresa deixaram impressas suas vivencias cristãs, a Beata Lindalva, religiosa residente no Abrigo Dom Pedro II sofreu o martírio numa sexta-feira santa com 44 facadas em defesa de sua castidade quando servia aos idosos o lanche da manhã.
Beata Lindalva Justo de Oliveira, Filha da Caridade martirizada com 44 facadas enquanto servia os idosos do Abrigo Dom Pedro II |
As tres religiosas possuem em comum a marca visível da caridade efetiva empregada no serviço aos mais pobres. Foram mulheres genuinamente cristãs, que, fizeram do Evangelho de Jesus Cristo regra para sua conduta entre os marginalizados da sociedade. Cada uma ao seu modo, de acordo com o carisma de suas respectivas congregações e vivencias pessoais conseguiram enxergar o Cristo nos rosto dos mais pobres aplicando-lhe o cuidado aludido por Ele em Mt 25,31-46.
Com toda graciosidade e cuidado típico das mulheres, elas foram em certo sentido "mães " nos locais onde atuaram: seja Madre Teresa com suas Missionárias e sem-casas no atual Bairro do Uruguai; ou Irmã Dulce no Hospital com os doentes ou moradores de rua; ou ainda Irmã Lindalva com os idosos e funcionários do Abrigo onde viveu. O fato é que todas elas usaram de uma doçura e jeito peculiar de cuidar que o Criador quis empregar de modo muito especial às mulheres por Ele criadas. Dinâmicas, acolhedoras, empreendedoras, mulheres de oração, misticas do cotidiano e contemplativas na ação. Elas que pelo voto religioso associaram-se ao Cristo-Esposo com Ele e por Ele fizeram nobres atos. Não distonante destes adjetivos e ações destas heroínas da fé e da caridade na capital da Bahia,uma outra religiosa já vivenciara estas e outras virtudes há muito tempo atrás. Falo de Madre Vitória da Encarnação, uma religiosa de conduta exemplar que ainda hoje é passível de admiração e veneração.
Madre Vitória da Encarnação, Clarissa com fama de santidade que viveu no Convento do Desterro em Salvador-BA |
A figura de Madre Vitória da Encarnação traz à baila a perfeita conciliação entre contemplação e ação. Segundo seu principal biógrafo Dom Sebastião Monteiro da Vide, ela nasceu em 6 de março de 1661 na Capital Baiana. Morou no convento do Desterro onde professou seus votos perpétuos na Ordem de Santa Clara um pouco antes dos 25 anos de idade. Possuía uma vida pautada em duras penitências e na pratica da caridade aos mais pobres. O voto de clausura que fizera não a impedia de ajudar aos necessitados daquele tempo: dava de comer a quem batia à porta do convento, distribuía donativos conforme à necessidade do pedinte, enterrava cadáveres abandonados à porta do local, além de socorro espiritual à quem lhe ocorria pedindo preces e conselhos. Era devotada à paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e, por vezes era vista se penitenciando com uma enorme cruz sobre os ombros ou com cilícios e chicotes. Na sociedade colonial onde a mulher tinha pouca notoriedade, a Madre Vitória era uma figura que já em vida gozava da fama de santidade e estima por parte da população. O que perdurou por muito tempo ainda, mesmo após a sua morte em 19 de Julho de 1715 quando contava com 54 anos de idade.
Vitoria da Encarnação foi uma mulher de profunda vivência mística no Brasil Colonial. Taumaturga, era capaz de localizar pessoas, animais e objetos desaparecidos além dos dons de profecia e curas por sua intercessão. Contudo, era de uma profunda humildade entre suas monjas que por diversas vezes a viam junto das servas e escravas na mesa das refeições. Sem receio algum é justo afirmar que era mesmo uma religiosa de conduta exemplar tanto no sentido humano quanto espiritual. Só mesmo uma mulher por demais sábia e dinâmica, profundamente cheia do Espirito Santo, saberia conciliar suas obrigações religiosas de oração e caridade para os pobres fora dos muros do Convento sem deixar ou trair o voto de clausura. Por isto é mister enaltecer as virtudes desta serva de Deus que se encontra a caminho dos altares e recorrer à sua intercessão neste ano da Misericórdia.
Reverenciar Madre Vitoria da Encarnação e às beatas Teresa, Lindalva e Dulce que aqui estiveram, é fazer valer a possibilidade de santidade à todos os cristãos sobretudo às mulheres que, mirando-se na Mãe de Jesus têm nela seu modelo maior de mulher e santidade.
Que se proclamem pelas praças da cidade o testemunho destas mulheres benditas que aqui viveram!!! Elas passaram fazendo o bem, e, fizeram desta terra a possibilidade de uma Bahia de "Todas-as-Santas" para a glória de Deus Pai que nos chama 'homens e mulheres' a trilhar os caminhos da santidade.
Thiago Felipe Lima da Mata
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